INFÂNCIA OPERÁRIA E ACIDENTE DO TRABALHO EM SÃO PAULO

Esmeralda Blanco Bolsonaro de Moura

             O texto em questão, apresenta um tema principal: a criança – abandonada, marginalizada, explorada.

            · Abandonada: quando era deixada na “Roda dos Excluídos”, um local onde quem deixava a criança não era visto por quem a recolhia e vice-versa, mantendo-se assim oculto o passado desses excluídos. Essas crianças deixadas na roda, e mesmo as abandonadas nos orfanatos hoje em dia, são excluídas pela família, não por vontade da mesma, mas por necessidade, pois na maioria dos casos, os pais não possuem condições financeiras para criá-las, sendo obrigados a abandoná-las, com a intenção de que elas possam ter a oportunidade de uma vida melhor. No entanto, o desejo dos pais nem sempre acontece, pois em grande parte dos casos, os pequenos não são adotados e não conseguem ter a vida que mereciam.

            · Marginalizada, em grande parte por obra da própria sociedade, sem condições de vida, tendo o crime como única alternativa. O futuro dessas crianças é, muitas vezes, a FEBEM, que apesar de ter uma função muito “bonitinha” no papel, não passa de uma prisão para menores, onde convivem juntos infratores dos mais diversos tipos de delitos. A FEBEM que todos conhecemos atualmente não possui uma infra-estrutura adequada para readaptar o indivíduo ao convívio social. ao invés de educar esses menores e reintegrá-los à sociedade, a FEBEM acaba contribuindo decisivamente para que esses jovens, ao saírem de lá, transformem-se em verdadeiros criminosos.

            · Explorada, quando se vê obrigada a trabalhar desde pequena para ajudar no sustento da família, recebendo em troca míseros salários e tendo sua infância e juventude totalmente roubadas.

            O trabalho compromete por completo o desenvolvimento físico e emocional das crianças, sem contar a alta incidência de acidentes no trabalho que ocorrem com elas. Muitos desses pequenos trabalhadores não farão parte da população economicamente ativa no futuro, pois terão sofrido algum tipo de acidente no trabalho, ficando então inutilizados para o exercício do mesmo. Os acidentes acabam acontecendo por imprudência da própria criança, por descuido, distração, curiosidade e por brincadeiras entre eles, atitudes absolutamente normais entre as crianças.

            Mesmo nos dias de hoje, é comum vermos crianças trabalhando e, o que é pior, em locais de perigo como olarias, no corte da cana, nas carvoarias, lidando com materiais altamente prejudiciais a sua saúde. Estas crianças são exploradas em uma idade em que deveriam estar indo para a escola. As pessoas que utilizam a mão-de-obra infantil, valem-se muitas vezes da miséria absoluta em que vivem as famílias desses pequenos, pois por menor que seja a quantia ganha por eles, já contribui no orçamento familiar.

            Esse problema não será resolvido com as medidas tomadas atualmente para trazer as crianças de volta para a escola, porque, para que isso aconteça, faz-se necessário que os pais tenham trabalho e salários decentes, para que não seja preciso haver contribuição da criança na renda familiar.

            Além de todos os pontos colocados, existe um outro problema, que é o fato de muitos não enxergarem a criança como um todo, mas apenas como uma parte, ou seja, a criança é idealizada, tendo-se como modelo as crianças de classe média e alta, sendo utilizados os seus padrões de comportamento, vocabulário e vestuário como referência para todas crianças. Isto consiste num erro, pois são levados em consideração somente os comportamentos e necessidades de uma minoria, esquecendo-se que as crianças têm condições de vida, escolarização e trabalho diferentes umas das outras. Além dos menores das classes média e alta, existem também aqueles que vivem pelas ruas, aqueles que desde cedo precisam trabalhar e não têm condições de freqüentar a escola.

            O que deve ser entendido é que não se pode estabelecer um conceito de infância, porque as crianças não são iguais. Deve ser levado em conta o contexto histórico e a classe social em que a criança está inserida, pois isso exerce grande influência na vida dela.

            E, acima de tudo, deve ser dado a criança o seu direito de ser criança.    

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