A CONTRIBUIÇÃO
DE DURKHEIM PARA A SOCIOLOGIA
Durkheim é apontado com um dos primeiros grandes teóricos da Sociologia,
embora Comte possa ser considerado o pai por tê-la batizado.
Durkheim e seus colaboradores emanciparam a Sociologia da Filosofia Social e
colocou-a como disciplina científica rigorosa. Sua preocupação foi definir o
método e as aplicações desta nova ciência. Ele formulou com clareza o tipo
de acontecimento sobre os quais o sociólogo deveria se debruçar: os fatos
sociais que deveriamser o objeto da Sociologia.
A educação desempenha, uma importante tarefa na conformação dos indivíduos
à sociedade em que vivem, a ponto de, após algum tempo, as regras estarem
internalizadas e transformadas em hábitos.
Uma vez identificados e caracterizados os fatos sociais, a preocupação de
Durkheim dirigiu-se para a conduta necessária ao cientista, a fim de que seu
estudo tivesse realmente bases científicas. Para Durkheim, como para todos os
positivistas, não haveria explicação científica se o pesquisador não
mantivesse certa distância e neutralidade em relação aos fatos, resguardando
a objetividade de sua análise. Foi preciso que o sociólogo deixe de lado seus
valores e sentimentos pessoais em relação ao acontecimento a ser estudado,
pois eles nada têm de científico e podem distorcer a realidade dos fatos.
Procurando garantir à Sociologia um método tão eficiente quanto o
desenvolvido pelas ciências naturais, Durkheim aconselhava o sociólogo a
encarar os fatos sociais como coisas, exteriores, deveriam ser medidos,
observados e comparados independentemente do que os indivíduos pensassem ou
declarassem a seu respeito. Estas formulações seriam apenas opiniões, juízos
de valor individuais que podem servir de indicadores dos fatos sociais, mas
mascaram as leis de organização social, cuja racionalidade só é acessível
ao cientista.
Para se apoderar dos fatos sociais, o cientista deve identificar, dentre os
acontecimentos gerais e repetitivos, aqueles que apresentam características
exteriores comuns.
Os fenômenos devem ser sempre considerados em suas manifestações coletivas,
distinguindo-se dos acontecimentos individuais ou acidentais.
Para Durkheim, a Sociologia tinha por finalidade não só explicar a sociedade
como encontrar remédios para a vida social. A sociedade, como todo organismo,
apresentaria estados normais e patológicas, isto é, saudáveis e doentios.
Durkheim considera um fato social como normal quando se encontra generalizado
pela sociedade ou quando desempenha alguma função importante para sua adaptação
ou sua evolução. Assim, Durkheim afirma que o crime, por exemplo, é normal não
só por ser encontrado em qualquer sociedade, em qualquer época, como também
por representar a importância dos valores sociais que repudiam determinadas
condutas como ilegais e as condenam a penalidades. A generalidade de um fato
social, isto é, sua unanimidade, é garantia de normalidade na medida em que
representa o consenso social, a vontade coletiva, ou o acordo de um grupo a
respeito de uma determinada questão.
Partindo do principio de que o objetivo máximo da vida social é promover a
harmonia da sociedade consigo mesma e com as demais sociedades, e que essa
harmonia é conseguida através do consenso social, a "saúde" do
organismo social se confunde com a generalidade dos acontecimentos e com a função
destes na preservação dessa harmonia, desse acordo coletivo que se expressa
sob a forma de sanções sociais. Quando um fato põe em risco a harmonia, o
acordo, o consenso e, portanto, a adaptação e evolução da sociedade, estamos
diante de um acontecimento de caráter ruim e de uma sociedade doente, portanto,
normal é aquele fato que não extrapola os limites dos acontecimentos mais
gerais de uma determinada sociedade e que reflete os valores e as condutas
aceitas pela maior parte da população.
Toda a teoria sociológica de Durkheim pretende demonstrar que os fatos sociais
têm existência própria e independente daquilo que pensa e faz cada indivíduo
em particular. Embora todos possuam suas "consciências individuais",
seus modos próprios de se comportar e interpretar a vida, podem-se notar, no
interior de qualquer grupo ou sociedade, formas padronizadas de conduta e
pensamento. Essa constatação está na base do que Durkheim chamou consciência
coletiva.
A consciência coletiva não se baseia na consciência dos indivíduos
singulares ou de grupos específicos, mas está espalhada por toda a sociedade.
Ela revela o tipo da sociedade, que não seria apenas o produto das consciências
individuais, mas algo diferente, que se imporia aos indivíduos e perduraria
através das gerações.
A consciência coletiva é a forma moral vigente na sociedade. Ela aparece como
regras fortes e estabelecidas que delimitam o valor atribuído aos atos
individuais. Ela define o que, numa sociedade, é considerado imoral ou
criminoso.
Do que foi exposto conclui que Durkheim se propôs a tarefa de realizar uma
teoria da investigação sociológica. E foi o primeiro sociólogo que conseguiu
atingir seu objetivo, em condições difíceis e com um êxito que só pode ser
contestado quando se toma uma posição diferente em face das condições,
limites e ideais de explicação científica na Sociologia.
Para Durkheim, a Sociologia deveria ter ainda por objetivo comparar as diversas
sociedades. Constituiu assim o campo da morfologia social, ou seja, a classificação
das espécies sociais. Durkheim considerava que todas as sociedades haviam evoluído
da forma social mais simples, igualitária, reduzida a um único segmento onde
os indivíduos se assemelhavam aos átomos. Desse ponto de partida, foi possível
uma série de combinações, das quais originaram-se outras espécies sociais
identificáveis no passado e no presente, tais como os clãs e as tribos.
O Positivismo, que pusera os filósofos diante de uma realidade social a ser
especulada, transformou-se, em Durkheim, numa real postura empírica, centrada
naqueles fatos que poderiam ser observados, mensurados e relacionados através
de dados coletados diretamente pelo cientista. Durkheim procurou, para isso,
estabelecer os limites e as diferenças entre a particularidade e a natureza dos
acontecimentos filosóficos, históricos, psicológicos e sociológicos.
Elaborou um conjunto coordenado de conceitos e de técnicas de pesquisa que,
embora norteados por princípios das ciências naturais, guiavam o cientista
para o discernimento de um objeto de estudo próprio e dos meios adequados para
interpretá-lo.
Embora preocupado com
as leis gerais capazes de explicar a evolução das sociedades humanas, Durkheim
ateve-se também às particularidades da sociedade em que vivia e aos mecanismos
de coesão dos pequenos grupos, à formação de sentimentos comuns resultantes
da convivência social. Distinguiu diferentes instâncias da vida social e seu
papel na organização Social, como a educação, a família e a religião.
Pode-se dizer que, com Durkheim, já se delineava uma apreensão da Sociologia
em que se relacionava harmonicamente o geral e o particular numa busca, ainda
que não expressa, da noção de totalidade. Essa noção foi desenvolvida
particularmente por seu sobrinho e colaborador Marcel Mauss, em seus estudos
antropológicos. Em vista de todos esses aspectos tão relevantes e inéditos,
os limites antes impostos pela filosofia Darwinista positivista perderam sua
importância, fazendo dos estudos de Durkheim um constante objeto de interesse
da Sociologia Contemporânea.
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