DECÁLOGO
DO BOM PROFESSOR
Vicente Martins
E-mail: vicente.martins@uol.com.br
Introdução:
Apresentamos um texto contendo dez princípios para atividade docente de um bom professor do terceiro milênio, século marcado pela informação e pelo conhecimento tecnológico.
O professor do século XXI é aquele
que, além da competência, habilidade interpessoal, equilíbrio emocional, tem
a consciência de que mais importante do que o desenvolvimento cognitivo é o
desenvolvimento humano e que o respeito às diferenças está acima de toda
pedagogia..
A função do bom professor do século XXI não é apenas a de ensinar, mas de
levar seus alunos ao reino da contemplação do saber.
Eis então os dez passos na direção de uma pedagogia do desenvolvimento
humano:
1º - Aprimorar o educando como
pessoa humana – A nossa grande tarefa como professor ou educador não é a de
instruir, mas a de educar nosso aluno como pessoa humana, como pessoa que vai
trabalhar no mundo tecnológico, mas povoado de corações, de dores, incertezas
e inquietações humanas.
A escola não pode se limitar a educar pelo conhecimento destituído da
compreensão do homem real, de carne e osso, de corpo e alma.
De nada adianta o conhecimento bem ministrado em sala de aula, se fora da
escola, o aluno se torna um homem brutalizado, desumano e patrocinador da barbárie.
Educamos pela vida como perspectiva de favorecer a felicidade e a paz entre os
homens.
2º - Preparar o educando para o exercício da cidadania – Se de um lado,
primordialmente, devemos ter como grande finalidade do nosso magistério o
ministério de fazer o bem às pessoas, fazer o bem é preparar nosso para o
exercício exemplar e pleno da cidadania.
O cidadão não começa quando os pais registram seus filhos no cartório nem
quando os filhos, aos dezoito anos, tiram suas carteira de identidade civil, a
cidadania começa na escola, desde os primeiros anos da educação infantil e se
estende à educação superior, nas universidades; começa com o fim do medo de
perguntar, de inquirir o professor, de cogitar outras possibilidades do fazer,
enfim, quando o aluno aprende a fazer fazer, a construir espaço de sua utopia e
criar um clima de paz e bem-estar social, política e econômico no meio social.
3º - Construir uma escola democrática – A gestão democrática é a palavra
de ordem na administração das escolas. Os educadores que atuarão no novo milênio
devem ter na gestão democrática um princípio em que não arredam pé, não
abrem mão.
Quanto mais a escola for democrática, mais transparente. Quanto mais a escola
é democrática, menos erra, tem mais acerto e possibilidade de atender com eqüidade
as demandas sociais. Quanto mais exercitamos a gestão democrática nas escolas,
mais no preparamos para a gestão da sociedade política e civil organizada.
Aqui, pois, reside uma possibilidade concreta: chegar à universidade e concluir
um curso de educação superior e estar preparado para tarefas de gestão na
governo do Estado, nas prefeituras municipais e nos órgãos governamentais.
Quem exercita a democracia em pequenas unidades escolares, constrói um espaço
próprio e competente para assumir responsabilidades maiores na estrutura do
Estado. Portanto, quem chega à universidade não deve nunca descartar a
possibilidade de inserção no meio político e poder exercitar a melhor política
do mundo, a democracia.
4º - Qualificar o educando para progredir no mundo do trabalho – Por mais que
a escola qualifique seus recursos humanos, por mais que adquira o melhor do
mundo tecnológico, por mais que atualize suas ações pedagógicas, era sempre
estará marcando passo frente às novas transformações cibernéticas, mas a
escola, através de seus professores, poderá qualificar o educando para
aprender a progredir no mundo do trabalho, o que eqüivale a dizer a oferecer
instrumentos para dar respostas, não acabadas ( porque a vida é processo
inacabado) às novas demandas sociais, sem medo de perdas, sem medo de mudar,
sem medo de se qualificar, sem medo do novo, principalmente o novo que vem nas
novas ocupações e empregabilidade.
5º - Fortalecer a solidariedade humana – É papel da escola favorecer a
solidariedade, mas não a solidariedade de ocasião, que nasce de uma catástrofe,
mas do laço recíproco e cotidiano e de amor entre as pessoas. A solidariedade
que cabe à escola ensinar é a solidariedade que não nasce apenas das perdas
materiais, mas que chega como adesão às causas maiores da vida, principalmente
às referentes à existência humana.
Enfim, é na solidariedade que a escola pode desenvolver, no aluno-cidadão, o
sentido de sua adesão às causas do ser e apego à vida de todos os seres
vivos, aos interesses da coletividade e às responsabilidades de uma sociedade a
todo instante transformada e desafiada pela modernidade.
6º - Fortalecer a tolerância recíproca – Um dos mais importantes princípios
de quem ensina e trabalha com crianças, jovens e adultos é o da tolerância,
sem o qual todo magistério perde o sentido de ministério, de adesão aos
processos de formação do educando.
A tolerância começa na aceitação, sem reserva, das diferenças humanas,
expressas na cor, no cheiro, no falar e no jeito de ser de cada educando.
Só a tolerância é capaz de fazer o educador admitir modos de pensar, de agir
e de sentir que diferente dos de um indivíduo ou de grupos determinados, políticos
ou religiosos.
7º - Zelar pela aprendizagem dos alunos – Muitos de nós professores,
principalmente os do magistério da educação escolar, acreditam que o
importante, em sala de aula, é o instruir bem, o que pode ser traduzido, ter
domínio de conhecimento da matéria que ministra aula.
No entanto, o domínio de conhecimento não deve estar dissociado da capacidade
de ensinar, de fazer aprender. De que adiante e conhecimento e não saber, de
forma autônoma e crítica, aplicar as informações?
O conhecimento não se faz apenas com metalinguagem, com conceitos a, b ou c, e
sim, com didática, com pedagogia do desenvolvimento do ser humano, sua mediação
fundamental.
O zelo pela aprendizagem passa pela recuperação daqueles que têm dificuldade
de assimilar informações, sejam por limitações pessoais ou sociais. Daí, a
necessidade de uma educação dialógica, marcada pela troca de idéias e opiniões,
de uma conversa colaborativa em que não se cogita o insucesso do aluno.
Se o aluno fracassa, a escola também fracassou. A escola deve riscar do dicionário
a palavra FRACASSO. Quando o aluno sofre com o insucesso, também fracassa o
professor. A ordem, pois, é fazer sempre progredir, dedicar-se mais do que as
horas oficialmente destinadas ao trabalho e reconhecer que nosso magistério é
missão, às vezes árdua, mas prazerosa, às vezes sem recompensa financeira
condigna que merecemos, mas que pouco a pouco vamos construindo a consciência
na sociedade, principalmente a política, de que a educação, se não é panacéia,
é o caminho mais seguro para reverter as situações mais inquietantes e vexatórias
da vida social.
8º- Colaborar com a articulação da escola com a família – O professor do
novo milênio deve ter em mente que o profissional de ensino não é mais
pedestal, dono da verdade, representante de todos os saberes, capaz de dar
respostas para tudo. Articular-se com as famílias é a primeira missão dos
docentes, inclusive para contornar situações desafiadoras em sala de aula.
Quanto mais conhecemos a família dos nossos alunos, mais os entendemos e mais
os amamos. Uma criança amada é disciplinada. Os pais, são, portanto,
coadjuvantes do processo ensino-aprendizagem, sem os quais nossa ensinança fica
coxa, não vai adiante, não educa.
A sala de aula não é sala-de-estar do nosso lar, mas nada impede que os pais
possam ajudar nos desafios da pedagogia dos docentes nem inoportuno é que os
professores se aproximam dos lares para conhecerem de perto a realidade dos
alunos e possam juntos, pais e professores, fazer a aliança de uma pedagogia de
conhecimento mútuo, compartilhado e mais solidário.
9º - Participar ativamente da proposta pedagógica da escola – A proposta
pedagógica não deve ser exclusividade dos diretores da escola. Cabe ao
professor participar do processo de elaboração da proposta pedagógica da
escola até mesmo para definir de forma clara os grandes objetivos da escola
para seus educandos.
Um professor que não participa, se trumbica, se perde na solidão de suas aulas
e não tem como pensar-se como ser participante de um processo maior, holístico
e globalizado. O mundo globalizado para o professor começa por sentir-se parte
no seu chão das decisões da escola, da sua organização administrativa e
pedagógica.
10º - Respeitar as diferenças – Se de um lado, devemos levantar a bandeira
da tolerância, como um dos princípios do ensino, o respeito às diferenças
conjuga-se com esse princípio, de modo a favorecer a unidade na diversidade, a
semelhança na dessemelhança. Decerto, o respeito às diferenças de linguagem,
às variedades lingüísticas e culturais, é a grande tarefa dos educadores do
novo milênio.
O respeito às diferenças não tem sido uma prática no nosso cotidiano, mas,
depois de cinco séculos de civilização tropical, descobrimos que a igualdade
passa pelo respeito às diferenças ideológicas, às concepções plurais de
vida, de pedagogia, às formas de agir e de ser feliz dos gêneros humanos.
O educador, pois, deve ter a preocupação é reeducar-se de forma contínua uma
vez que nossa sociedade ainda traz no seu tecido social as teorias da
homogeneidade para as realizações humanas, teoria que, depois de 500 anos,
conseguiu apenas reforçar as desigualdades sociais. Nossa missão, é dizer que
podemos amar, viver e ser felizes com as diferenças, pois, nelas, encontraremos
nossas semelhanças históricas e ancestrais: é, dessa maneira, a nossa forma
de dizer ao mundo que as diferenças nunca diminuem, e sim, somam valores e
multiplicam os gestos de fraternidade e paz entre os homens.
Uma reflexão:
Pela manhã, o bom religioso, abre o livro sagrado e reflete sobre o bem e o
mal.
Por um feliz amanhã, o bom professor abre a LDB e aprende a conciliar o
conhecimento e a humanidade.
Vicente Martins é professor de
Lingüística da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA, Sobral, CE) com mestrado em educação pela UFC