A UTILIZAÇÃO DO COMPUTADOR & INTERDISCIPLINARIDADE 

Vivemos, atualmente a era da informática, com suas contradições e seus paradoxos. O planeta prepara-se para o trânsito e inserção no mundo globalizado. Como afirmava o filósofo grego, Heráclito, “ no mundo tudo flui, tudo se transforma, pois a essência da vida é a mutabilidade, e não a permanência.” 

A rapidez das mudanças em todos os setores da sociedade (científico, cultural, tecnológico ou político-econômico) exige uma revisão didático-pedagógica do processo de ensino/aprendizagem. Não cabe mais a proposta de conhecimentos compartimentalizados, sem articulação entre si e com o cotidiano em que vivemos.

A educação tem o papel de preparar os novos cidadãos para viverem um mundo em constante modificação e que exige pessoas aptas a atuarem ativamente, adaptando-se às inovações e sendo capaz de buscar por si mesmo o conhecimento. Diante desse fato cabe a pergunta: Como utilizar adequadamente o computador, de modo a facilitar o trabalho do professor em sala de aula? 

Uma vez que as resistências tenham sido superadas, e o medo da máquina não seja mais um empecilho, o primeiro passo seria uma nova concepção de ensino e de currículo, tendo em vista que é preciso atentar para os aspectos pedagógicos e filosóficos – ou seja, o que se pretende alcançar com o uso dos computadores? 

Na opinião da pedagoga Rosemary Softner, “se o objetivo é apenas preparar os alunos para o mercado de trabalho ou introduzi-los no uso da informática não há muito o que elucubrar. Basta ensinar os programas ou dirigir as pesquisas pela Internet. Agora, se o que se pretende é usá-lo como instrumento pedagógico, é preciso um projeto educacional completo”. 

É consenso afirmar que qualquer atividade com informática só vai dar certo se estiver apoiada em um bom projeto de ensino, que determine porque e como usar o computador. Segundo Alfredo Marano, especialista em informática educativa pela USP, “É o projeto que deixa claro como a informática vai ajudar nas aulas. Fazer qualquer coisa no computador, sem vínculo com as aulas, é perder tempo. Somente com os objetivos bem definidos é possível, por exemplo, manter o interesse pela disciplina. O uso do computador requer método e avaliação. Método é a forma como o computador será utilizado.” A avaliação deve estar sempre presente, cabendo ao professor observar se os objetivos pedagógicos estão sendo alcançados, se a metodologia utilizada foi adequada, se os alunos estão motivados, se o uso do computador tem contribuído para a melhoria do rendimento e da aprendizagem durante as aulas.  

Um importante aspecto a considerar quando se fala em projetos é a questão relacionada a interdisciplinaridade, cuja proposta é a de superar a fragmentação do saber, promovendo uma integração de conhecimentos. Existem diversas interpretações para este termo, entretanto, podemos definir, em linhas gerais, a interdisciplinaridade, como sendo um processo dinâmico, integrador e sobretudo dialógico do conhecimento. O diálogo implica em respeito à autonomia individual e ao estilo próprio de cada um se expressar. A interdisciplinaridade é uma estratégia pedagógica que procura integrar as diversas disciplinas do currículo, promovendo uma relação de reciprocidade, uma mudança de atitude perante o problema do conhecimento e a substituição de uma concepção fragmentária por uma unitária do ser humano (adaptado de Ivani Fazenda). 

A interdisciplinaridade pressupõe basicamente uma intersubjetividade, não pretende a construção de uma superciência, caracteriza-se por uma intensa reciprocidade nas trocas entre os conteúdos curriculares, visando um enriquecimento mútuo ( Hilton Japiassu). 

Não há receitas prontas para se adotar a interdisciplinaridade, depende muito da integração, da boa vontade e da criatividade dos professores em adotar uma prática que privilegie uma visão mais globalizada do currículo, do que de técnicas especiais. “... alunos e professores – sujeitos de sua própria ação – se engajam num processo de investigação, re-descoberta e construção coletiva de conhecimento, que ignora a divisão do conhecimento em disciplinas”. (NIS de Alagoas). 

Assim, percebe-se que há necessidade de uma constante formação do professor, desenvolvendo hábitos de estudo e de leitura, afim de se inteirar a respeito das novas tendências pedagógicas, buscando novos conhecimentos e reflexões, que contribuam para a sua prática em sala de aula. 

COMO A ESCOLA PODE TORNAR-SE INTERDISCIPLINAR 

O primeiro passo rumo à nova proposta é a mudança do paradigma de escola e da postura dos professores. A função da escola já não é integrar as novas gerações ao tipo de sociedade preexistente, pela modelagem do comportamento aos papéis sociais prescritos e ao acervo de conhecimentos acumulados.

No novo conceito de papel social da educação, a escola tem a função de construir, pela praxis, uma nova relação humana, revelando criticamente o acervo de conhecimentos acumulados, tomando consciência da participação pessoal na definição de papéis sociais. 

Para que esse novo papel social da educação se cumpra, é preciso rever o funcionamento da escola não só quanto a conteúdos, metodologias e atividades, mas também quando à maneira de tratar o aluno e aos comportamentos que deve estimular, como o auto-expressão (livre, crítica, criativa, consciente): a autovalorização (reconhecimento da própria dignidade); a curiosidade e a autonomia na construção do conhecimento (estabelecendo rede de significação interdisciplinar), dentre outras. 

A qualidade da educação, grande preocupação dos administradores escolares, hoje, será alcançada pela via de gestão participativa, trabalhado de equipe e currículo interdisciplinar – todos esses mecanismos que superam o modelo individualista, fragmentado e centralizador de administração e de produção do saber. 

O segundo passo rumo à operacionalização do currículo interdisciplinar é, pois, a administração participativa e metodologia participativa. 

Uma prática escolar interdisciplinar tem algumas características que podem ser apontados como fundamentos ou “pistas” para uma transformação curricular e que exigem mudanças de atitude, procedimento, postura por parte dos educadores:

 

 

descoberta; 

 

 

 

- trabalhar com a pedagogia de projetos, que elimina a artificialidade da escola, aproximando-a da vida real, e iniciativa, a criatividade, a cooperação e a co-responsabilidade. Desenvolver projetos na escola seguramente a melhor maneira de garantir a integração de conteúdos pretendida pelo currículo interdisciplinar. 

Um projeto surge de uma situação, de uma necessidade sentida pela própria turma e consta de um conjunto de tarefas planejadas e empreendidas espontaneamente pelo grupo, em torno de um objeto comum. 

Para Jolibert, “ a pedagogia de projetos permite viver numa escola alicerçada no real, aberta a múltiplas relações com o exterior; nela a criança trabalha “pra valer” e dispõe dos meios para afirma-se como agente de seus aprendizados, produzindo algo que tem sentido e unidade”. 

Realiza-se, assim a proposta da interdisciplinaridade de buscar o sentido e a unidade do conhecimento e do ser. 

  (Texto compilado da revista Tema Livre, Instituto Anísio Teixeira, nov./96 )

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